junho 29, 2012

Ausência


Dei um tempo... Fiquei sentada na arquibancada e ninguém sentiu minha ausência. Daqui de cima vi minhas amigas divertindo-se. Sentindo o doce sabor da vida. Liberando-se dos pré-conceitos. Vivendo sem pudor.
Fiquei da arquibancada observando o que eu não queria mais ser. O que eu não queria mais fazer. Onde eu não gostaria mais de estar. E a vida se revelou fria e passageira. Como se coubesse na palma da minha mão. Como se minha fraqueza ou minhas inquietações não importassem.
E eu vi daqui dessa arquibancada, gente indo, gente chegando. De tudo que é canto. E me rasgando. Deixando de mim só os farrapos, e eu daqui da arquibancada reconstruindo o que ia sobrando de mim mesma. Ficando tudo remendado. Não sentindo mais o sabor de todas as cores que no começo, mesmo daqui, desse lugar eu conseguia sentir.
Partes de mim foram arrancadas e levadas. E eu sinto saudade dessa ausência de mim mesma. De quando eu podia sorrir e chorar, e ser como sempre quis ser. Menina ou mulher. Serena ou rebelde. Ser forte ou ser fraca. Ser feliz e ser feliz.
Essa ausência de mim mesma me traz saudades... Saudades de um tempo em que eu podia descer dessa arquibancada e viver todas essas coisas que daqui de cima só enxergo, e nem sinto mais, porque não posso revive-las. Não posso mais merecer tudo que um dia dessa arquibancada, outros olhos olhavam sem que eu percebesse. Sem que eu notasse.
Sinto falta de tudo aquilo que foi, de tudo que poderia ter sido e de tudo que ainda é. Sinto essa ausência constante de querer o que não existe. De estar onde não se pode estar. De conhecer quem eu já conheço. De sentir o que já há muito eu vivi.
Essa ausência dá angustia. Não sei bem o que é. Solidão daqui de cima sozinha, agora só enxergar todas aquelas coisas, exaltadamente, somente enxergar e não sentir os sabores, que um dia mesmo daqui de cima, eu conseguia sentir.

junho 28, 2012

Sobre os homens...

Sim, eles têm sentimentos... Juro que tem. E olha que não sou um deles. Eles forçam a barra e conseguem se mostrar fortes, cheios de atividade e com aquele cheiro incrível, que faz com que nós fiquemos hipnotizadas e não enxerguemos a realidade.
Em uma tarde aquela linda moça chega e ele finge não ver... Estou de fora observando que ela já se sente atraída por seu jeito de menino de praia. Mas falta a oportunidade que só acontecerá dias depois. Com um papo sobre bebidas ou sobre qualquer outra coisa.
Nos olhos dele vejo que sente poder fazer qualquer coisa para conquistar aquela bela jovem. Mas talvez não valha a pena, logo acabarão esses dias de verão. Belas moças vem e virão. Por toda sua vida isso aconteceu.
Mas em uma manhã como essa ela vem com um fino vestido de seda. Lábios levemente pintados e uma flor vermelha no cabelo. Os pés estão descalços e até eu que estou a alguns metros de distância sinto o doce cheiro que exala seu corpo.
E aquela conversa sobre bebidas flui. E gera olhares... Inclusive os meus. O ambiente se torna único para aqueles jovens e ninguém mais existe, principalmente para ele, que sonha a vida encontrar uma bela mulher cheirando a almíscar que aparece delicadamente com uma flor no cabelo, implorando para que ele se perca n’ela.
Ele observa aquele corpo moreno imaginando o toque das mãos delicadas em suas tatuagens e seu peito másculo. Nesse momento os meus olhos brilham com tanto desejo, olhando do lado de fora o momento mágico de duas pessoas se enamorando, ou apenas desejando a pele um do outro.
Mas para ele a eternidade do momento ficou muito pequena. A distância logo virá e tudo serão lembranças, como sempre acontece. E assim é melhor não arriscar tanto o coração.
Ele se afasta, caminha até um corredor vazio, passa por mim e alarga o sorriso. Eu continuo a observá-lo. Não pela beleza praiana, mas sim por quase entender o que se passa. Com o celular em suas mãos consigo ver a foto que ele acabara de tirar daquela mulher morena, e o retribuo com uma piscadela de olhos, desejando no fundo que ele volte até ela. Que eles continuem conversando.
No entanto ele continua sua rotina. Não importando muito com o que passa pelo meu olhar. Não o vejo outra vez perto daquela bela jovem. Pelo menos até onde pude acompanhá-los. Um dia, quem sabe se encontrarão... Ela com filhos e ele ali, ainda olhando o mar sentado na areia com a prancha de surf enterrada ao seu lado, sentindo o cheiro da maresia e desejando a vida do outro que com ela está.
E mais uma vez vem, a incerteza do talvez. Daquilo que poderia ser mais por medo ou até mesmo precaução ficou para traz, nas lembranças de um homem, que ama o mar. No entanto entregaria seu coração para aquela bela morena, naquele verão.