Dei um tempo... Fiquei sentada na arquibancada e ninguém sentiu minha ausência. Daqui de cima vi minhas amigas divertindo-se. Sentindo o doce sabor da vida. Liberando-se dos pré-conceitos. Vivendo sem pudor.
Fiquei da arquibancada observando o que eu não queria mais ser. O que eu não queria mais fazer. Onde eu não gostaria mais de estar. E a vida se revelou fria e passageira. Como se coubesse na palma da minha mão. Como se minha fraqueza ou minhas inquietações não importassem.
E eu vi daqui dessa arquibancada, gente indo, gente chegando. De tudo que é canto. E me rasgando. Deixando de mim só os farrapos, e eu daqui da arquibancada reconstruindo o que ia sobrando de mim mesma. Ficando tudo remendado. Não sentindo mais o sabor de todas as cores que no começo, mesmo daqui, desse lugar eu conseguia sentir.
Partes de mim foram arrancadas e levadas. E eu sinto saudade dessa ausência de mim mesma. De quando eu podia sorrir e chorar, e ser como sempre quis ser. Menina ou mulher. Serena ou rebelde. Ser forte ou ser fraca. Ser feliz e ser feliz.
Essa ausência de mim mesma me traz saudades... Saudades de um tempo em que eu podia descer dessa arquibancada e viver todas essas coisas que daqui de cima só enxergo, e nem sinto mais, porque não posso revive-las. Não posso mais merecer tudo que um dia dessa arquibancada, outros olhos olhavam sem que eu percebesse. Sem que eu notasse.
Sinto falta de tudo aquilo que foi, de tudo que poderia ter sido e de tudo que ainda é. Sinto essa ausência constante de querer o que não existe. De estar onde não se pode estar. De conhecer quem eu já conheço. De sentir o que já há muito eu vivi.
Essa ausência dá angustia. Não sei bem o que é. Solidão daqui de cima sozinha, agora só enxergar todas aquelas coisas, exaltadamente, somente enxergar e não sentir os sabores, que um dia mesmo daqui de cima, eu conseguia sentir.